domingo, 19 de junho de 2011

Apreciação Crítica: A creche em busca de identidade

O livro A creche em busca de identidade de Lenira Haddad, conta as vivencias e experiências da autora no papel de diretora da creche municipal Vila Alba, na cidade de São Paulo,no período de dezembro de 1981 a setembro de 1986, esta instituição atendia crianças de 0 a 3 anos e deveria ficar próxima de uma Escola Municipal de Educação Infantil, que trabalhavam com as crianças de 4 a 6 anos. Nesta perspectiva da década de 80 a creche assumia o papel de “... abertura com as famílias e comunidade local, facilitando a participação do equipamento e tendo como meta que a creche se transformasse num espaço social que ajudasse a impulsionar a articulação e mobilização comunitária local.”(p.345 35). E a creche assume um caráter de função política, tinha capacidade par 70 crianças , e atendia cerca de 65, as famílias eram de nível socioeconômico baixo, em sua maioria constituída por moradores de favelas de São Paulo, dando prioridade aquelas que a situação social se apresentava mais grave.
No decorrer deste relato a autora fala de todas as dificuldades que envolveram o trabalho nesse tempo de administração da creche, entre elas duvida quanto a função das funcionárias compostas por auxiliar de direção, professores com curso de formação de Professor de Educação Infantil, pajens, funcionários da cozinha e limpeza, zelador e vigias. Não era bem definido o que cada um deveria fazer, bem como as funções da escola, que assumia um caráter de rotina doméstica, onde o enfoque era o cuidado com a higiene e a limpeza, alimentação e cuidados, deixando de lado o trabalho pedagógico e a interação entre os alunos. A questão escola e família também se confundia e conflitava em demasia, já que a família tinha ciúmes da escola, e as educadoras se revoltavam por as mães não terem os cuidados mínimos de higiene com seus filhos.
Todas essas dificuldades foram relatas pela a autora, e também a sua busca para mudar esse quadro. Iniciou com reuniões com os educadores, após abriu a escola pra o dialogo com os pais, que passaram a ser mais presentes, fazendo combinações do que seria função de cada um. Passou a organizar um rotina diferenciada para os alunos, na qual interagissem entre si, e o cuidado de higiene e limpeza fosse atrelado a atividades que desenvolvem a criança em seu aspecto motor e cognitivo. A escola recebeu auxílio, abrindo suas portas para nutricionistas e orientadores, o que ajudou na melhora do cardápio, e das atividades. A questão do banho nas crianças, fora uma temática que segundo ela exerceu muitos conflitos, já que como ele era dado na escola as mães não o faziam em casa, e no outro dia as crianças retornavam a escola sujas. Feitas então entrevistas com as mães, e a escolha de uma representante para esse grupo, e também reuniões e atividades para aproximação dos pais. Os educadores passaram a observar e fazer registros individualizados de cada criança. E em uma das reuniões dos professores fora trazido o relato de uma diretora de outra creche municipal, que havia experimentado a divisão do espaço em salas de referência e “salas-ambiente”: jogo, papel, casinha, tetro, musica e dança. O que fora muito bem recebido pelas pajens (professoras), poderiam trocar de salas e realizar atividades, o que diminuiu a sobrecarga sobre estas e a agressividade entre as crianças, tornou a escola mais flexível, e todos os funcionários envolvidos nesta proposta. Passou-se a receber melhor as mães, e estas passaram a poder participar do desenvolvimento de seus filhos.

“A mudança na proposta pedagógica não significava apenas o agrupamento de materiais com características específicas, mas evidenciava uma alteração nos referenciais de tempo, espaço e relações da criança na creche.” (p.174)

Todas as atividades, inclusive as rotineiras e a higiene foram percebidas como ação educativa.
Foi criada a “sala de criação”, e o processo de sala livre, onde em um determinado momento as crianças, independente de sua faixa etária poderia escolher a sala que gostaria de ficar.
E a após todos esses relatos a autora conclui o seu trabalho:

“ O projeto educativo resultante dessa experiência foi construído de forma empírica, a partir de confrontos e conflitos que envolveram os profissionais, pais e crianças. Não foi um processo harmônico, mas uma experiência que resultou em crescimento profissional, em um ambiente infantil rico em oportunidades de interação e n presença mais acentuada dos familiares, inclusive dos elementos masculinos.” (p. 223)


Partindo desta reflexão com a visita na escola, pudemos perceber que o sistema das salas, hoje é definido como “cantos”, e esta presente na maioria das escolas de educação infantil,inclusive na que visitamos, permitindo o desenvolvimento de diversas ares cognitivas na criança. E também as dificuldades de trabalho com todos os campos que englobam a educação desta criança, família, escola, professores e criança, que percebemos no relato das educadoras da escola visitada.
E que esse relato representa um salto na educação infantil, pois assim se percebe o penoso processo que percorreu na sua constituição, para se chegar hoje, onde se busca a integração entre o cuidado e a educação, trazendo a criança como ser agente de sua aprendizagem e potencializador. Porem o que vimos é que o embasamento teórico que Lenira Haddad evidenciou não estar presente naquele momento na escola, se faz fundamental hoje na educação infantil, e o trabalho das escolas é feito no diálogo permanente com os pensadores e documentos que orientam e envolvem a prática pedagógica desta faixa etária (0 5 anos).

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