sexta-feira, 17 de junho de 2011

Arquiteturas Pedagógicas: uma proposta metodológica para informática Educativa

                                                                                                                Adriana Demarqui Rosato
                                                                                                                  (adrirosato@gmail.com)

No ano de 2005, com a expansão de iniciativas de inclusão e apropriação tecnológica em educação, surge um novo conceito criado a partir do contexto da educação à distância: as “Arquiteturas Pedagógicas”, sendo proposta, primeiramente, por Carvalho, Nevado e Menezes (2005). O conceito, a compreensão e a utilização na área educacional, das “Arquiteturas Pedagógicas” (AP) têm gerado múltiplas interpretações, diretamente relacionadas com uma linha epistemológica que dá embasamento à proposta pedagógica.
Partindo da concepção elaborada por Carvalho, Nevado e Menezes (2007, p.39), Arquiteturas Pedagógicas podem ser compreendidas como “estruturas de aprendizagem realizadas a partir da confluência de diferentes componentes: abordagem pedagógica, software, Internet, inteligência artificial, educação à distância, concepção de tempo e espaço”. Ou seja, são combinados os recursos tecnológicos com a visão pedagógica, sendo esta conjunção o elemento que fundamenta a Arquiteturas Pedagógicas (AP). Também, as AP podem ser entendidas como a construção ou elaboração de estratégias pedagógicas que levam em consideração determinadas teorias com intuito de auxiliar a aprendizagem e mediar à construção do conhecimento utilizando como suporte os recursos tecnológicos e o apoio de ambientes virtuais (blogs, etc...), tendo por base práticas pedagógicas abertas e maleáveis. Ainda, segundo os autores (2007) “As arquiteturas pressupõem aprendizagens protagonista. Com orientação do professor, requerem-se do estudante ação e reflexão sobre experiências que contemplam na sua organização pesquisa, registro e sistematização do pensamento”.
            As AP utilizam o conceito de estratégias pedagógicas a partir das contribuições dos pensadores Paulo Freire - Pedagogia da Autonomia[1] e Jean Piaget- Construtivismo[2], pois ambos defendem a ideia de uma “Pedagogia da Incerteza”, lembrando que toda a prática pedagógica somente é validada a partir do momento que se tem um suporte teórico.


Partimos do pressuposto que o conhecimento não está assentado nas certezas, como propõe a ciência mecanicista, mas sim nasce do movimento, da dúvida, da incerteza, da necessidade da busca de novas alternativas, do debate, da troca. A ‘aprendizagem em rede’, não poderá prescindir de ações que possam traduzir as ideias (teorias) em práticas. (CARVALHO, NEVADO e MENEZES, 2007, p.38).

Tomando por base a Pedagogia da Incerteza, apresentada em seu livro “Aprendizagem em rede na educação à distância: estudos e recursos para formação de professores” dos autores Carvalho, Nevado e Menezes, destaca que a Pedagogia da Incerteza pressupõe:
·         Educar para a busca de soluções de problemas reais: Torna-se necessário repensar práticas docentes, através da utilização da tecnologia, proporcionando a seus discentes a busca de soluções de problemas significativos em suas vidas, aproximando-os da realidade.
·         Educar para transformar informações em conhecimento: A disponibilidade de um ambiente rico em informações não é suficiente. Deve-se propiciar um ambiente que possibilite a busca, investigação e construção do conhecimento.
·         Educar para autoria, a expressão, a interlocução: estas atividades permitem ao sujeito o exercício de autoria e construção, algo fundamental nos “ambiente de aprendizagem”.
·         Educar para a investigação, para a criação de novidades: a investigação permite ao sujeito a experimentação na busca de soluções de questões pertinentes ao sujeito, considerando o processo que ocorre internamente no sujeito (interação ambiente, outros sujeitos, etc...)
·         Educar para autonomia e a cooperação: permite aos sujeitos a exposição de ideias, ignorando a cópia, porém respeitando as normas de convívio social e cooperação.
            Nas AP perde-se o controle de tempo e espaço para aprendizagem, estes fatores se adaptam de acordo com o ritmo de cada sujeito, em uma perspectiva de desterritorialização do conhecimento, tendo sua busca em diferentes fontes virtuais. Estas requerem “pensamento em rede” [3] e significado ao “hipertexto” [4].
            As AP possuem funcionamento diferenciado, em relação à dinâmica de sala da aula.


As arquiteturas funcionam metaforicamente como mapas ao mostrar diferentes direções para se realizar algo, entretanto cabe ao sujeito escolher e determinar o lugar para ir e quais caminhos percorrer. Pode-se percorrê-los individualmente ou coletivamente, ambas as formas são necessárias. (CARVALHO, NEVADO e MENEZES, 2007, p.40).

Neste sentido o papel do professor é indispensável, criando e reinventado novas Arquiteturas Pedagógicas, intervindo e orientando seus discentes quando necessário, objetivando a visão de autonomia dos sujeitos. Também, o professor terá discentes em diferentes níveis de desenvolvimento, principalmente pelo fato de não ter controle sob o “caminho” que seus orientandos seguirão. Em toda a prática das Arquiteturas é indispensável o registro de dúvidas, de incertezas, de avanços, de descoberta e da construção do conhecimento.
            Ainda os autores, nos trazem alguns exemplos de arquiteturas, sendo elas:
Arquiteturas de projetos de aprendizagem; nesta arquitetura a problematização é formulada a partir das “Certezas Provisória” e das “Dúvidas Temporárias”. Segundo os autores “As certezas para as quais não se conheça os fundamentos que a sustentem são denominadas de provisórias. As dúvidas são sempre temporárias. O processo de investigação consiste no esclarecimento das dúvidas e na validação das certezas.”(CARVALHO, NEVADO e MENEZES,2007, p.41). A proposta tem semelhança com os “Projeto de Aprendizagem”, pois partem de um “tema problema”, que tenha significado e interesse dos sujeitos participantes do processo. Partindo do conhecimento prévio dos participantes e de seu contexto. Suporte telemático: torna-se fundamental a criação de um suporte onde os sujeitos individualmente ou em grupo irão publicar conhecimento construído, tendo em vista as dúvidas e incertezas, porém não somente os participantes poderão publicar, mas deverão disponibilizar ferramentas de interação ampliando a rede de colaboração, exemplo, site.
Arquitetura de Estudo de Caso ou resolução de Problema; propõem a solução de um caso ou problema inspirado de casos individuais ou de grupos, criando possibilidades de comparação com o atual. Segundo os autores “Ter um repertório de casos ou de boas histórias é condição para selecionar o que necessário (casos anteriores, exemplos de algo realizado por outros) para mobilizar outros sujeitos a trabalhar com algum problema. O objetivo é envolver o estudante e criar expectativas quanto à realização de algo e à solução de um problema.” (CARVALHO, NEVADO e MENEZES, 2007, pg. 42). Ainda os mesmos apresentam que o caso deve resolver algumas questões: “três questões devem ser satisfeitas, pelo professor, ao apresentar o desafio de estudo de caso ou de resolução de problema: (1) O que o estudante deve saber para resolver este problema? (2) Ele pode realizar por si ou realizará tão somente com a ajuda de um especialista? (3) O que o estudante deve considerar? Suporte telemático: esta arquitetura se apóia em: um ambiente de autoria de casos, um ambiente de resolução de casos e um ambiente para apoio à recuperação de casos - ambos utilizam-se de software.
Arquitetura de Aprendizagem Incidente: tornar algo desinteressante, ou seja, que se necessita saber, mas que não é de interesse do grupo ou do individuo, em questões instigantes. Isso seria possível criando uma situação de jogo, onde se tem desafios, em que os participantes experimentem e avancem tendo como intenção a realização de um objetivo maior (pedagógico). Segundo os autores:

A chave do aprendizado incidente é descobrir atividades que sejam intrinsecamente divertidas de se realizar com o computador e com a rede/internet. A parte mais importante está subsumida no objetivo maior, como nessas tarefas baseadas em conteúdos para as quais é preciso dispor de informação maior a fim de cumprir um objetivo. (CARVALHO, NEVADO e MENEZES, 2007, pg.46)



Arquitetura de Ação Simulada: O pressuposto desta arquitetura assenta-se na ideia de que o melhor meio de aprender a realizar atividades é fazê-las ou “aprender a fazer fazendo” (CARVALHO, NEVADO e MENEZES, 2007, pg. 48). Esta arquitetura requer a reprodução de situações reais, onde o professor dará o norte e o aluno escolhe o caminho a seguir, priorizando a realização de atividades desenvolvendo-se por si próprios a autonomia, o protagonismo e a autoria.
            Estes são alguns exemplos de Arquiteturas Pedagógicas, todas contêm como produto o suporte telemático ou também uma forma de publicação, onde os indivíduos farão o registro de seus progressos e de seu conhecimento gerado, valorizando suas produções e motivando-os a novas aprendizagens. O professor acompanha o desenvolvimento, fazendo feedback, intervindo sempre quando necessário, mediando construções e proporcionando possibilidades de escolha a seus alunos.

Referências:

CARVALHO; Marie Jane Soares,NEVADO;Rosane Aragón e MENEZES;Crediné Silva de.Aprendizagem em rede na educação à distância: estudos e recursos para formação de professores.Porto Alegre : Ricardo Lenz, 2007.

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